A persistência da precariedade na estrada rural que liga o Bairro Pedra Branca a Itaberá reacendeu, nesta semana, um debate incômodo na administração municipal de Itararé. Após seis meses de cobranças públicas e formais, o problema segue sem solução. A cada dia de chuva, a via se transforma em um corredor de lama que impede moradores de chegar ao trabalho, compromete o deslocamento para serviços essenciais e coloca em xeque a atuação do Secretário de Serviços Municipais, Lucas Aparecido Castilho.
As queixas ganharam novo peso após a fala do vereador Peneira da Pedra Branca na tribuna da Câmara Municipal. Ele relatou que o cenário já se tornou exaustivo, repetitivo e previsível, sempre que o tempo fecha. Segundo o parlamentar, a Secretaria de Serviços Municipais recebeu alertas antecipados ainda no período de estiagem, quando a manutenção preventiva seria mais simples e eficaz. Nada foi feito.
A crítica do vereador mira diretamente Castilho, responsável pela manutenção das estradas vicinais e ele próprio oriundo da zona rural. Para Peneira, essa condição deveria reforçar a sensibilidade do secretário diante das demandas do campo, não o contrário.
Trabalhadores prejudicados e relatos de desespero
A via não é uma estrada marginal. Trata-se de um acesso mestre, por onde passam diariamente trabalhadores que se deslocam a Itaberá para atuar em fábricas, resinadoras e no serviço público. Professores que lecionam na cidade vizinha e moradores que dependem do hospital local também utilizam a rota.
Com a nova sequência de chuvas, residentes voltaram a acionar o vereador. Em um dos áudios enviados e confirmados pela reportagem, um morador descreve uma situação de extremo estresse. Trabalhadores retidos, uma Kombi quebrada no barro, pessoas chorando de nervoso e a impossibilidade de chegar ou retornar do trabalho. O relato sintetiza um pedido de socorro coletivo:
“Não estamos pedindo nada pessoal. Estamos pedindo uma estrada boa para poder trabalhar. Pedra Branca, dia de chuva, fica isolada. É crítico. Nos ajude, pelo amor de Deus.”
Jefferson morador local



Munícipes que percorrem 40 km por dia relatam sensação de abandono
O caso de Cássia Rodrigues, trabalhadora de uma fábrica têxtil em Itaberá-SP, evidencia as consequências diretas da falta de manutenção. Ela enfrenta diariamente cerca de 40 km de deslocamento e afirma que a situação atual poderia estar resolvida desde o início do ano caso o poder público tivesse agido dentro de um planejamento preventivo.
Segundo sua declaração enviada ao vereador, a percepção predominante no bairro é a de que a Prefeitura aguarda o agravamento das chuvas para então reagir, tornando o deslocamento praticamente inviável.
Responsabilidade administrativa e silêncio técnico
O vereador afirma ter levado o tema ao Secretário Lucas Castilho, à chefe de gabinete Érica Cristina Zanin De Donno e ao prefeito João Fadel Filho. Não houve resposta técnica da Secretaria de Serviços sobre:
- Por que a manutenção preventiva não foi executada antes do período chuvoso.
- Se há cronograma formal para obras emergenciais na via.
- Quais fatores impedem uma intervenção que, segundo o vereador, envolveria apenas um trecho entre 300 e 400 metros.
- Se existe planejamento para drenagem, cascalhamento ou correção estrutural da estrada.
Estrada rural não é obra menor e exige gestão, não promessa
Durante a sessão, o vereador Peneira destacou que a justificativa recorrente do Poder Executivo seria a famosa frase “semana que vem”, que, segundo ele, nunca chega. O parlamentar reforçou que a população continua sem previsibilidade e sem garantia de mobilidade mínima.
O vereador Montanha, que esteve no local com Peneira, corroborou o relato e destacou que até o fluxo de pacientes para o hospital de Itaberá é afetado. Já o vereador Tião do Bairro afirmou ter recebido informações de que a estrada será arrumada assim que o tempo firmar, o que, até o momento, ainda não ocorreu.
Do ponto de vista técnico, estradas rurais que conectam municípios são classificadas pelos órgãos estaduais como vias estruturantes, responsáveis por garantir acesso produtivo, escoamento agrícola e mobilidade essencial. A demora na intervenção, segundo especialistas consultados pela Folha Sudeste, pode caracterizar falha de planejamento e ausência de política de manutenção contínua.
Responsabilidade pública e dever de resposta
Embora não haja indício de irregularidade ou dolo, o caso expõe a necessidade de maior transparência da Secretaria de Serviços Municipais. A população não tem obrigação de esperar o colapso total da via para receber atenção do poder público. A manutenção preventiva é um parâmetro básico de gestão, especialmente em áreas rurais, onde o impacto da chuva é amplamente conhecido.
Enquanto a Prefeitura sustenta o silêncio operacional, a comunidade segue isolada em dias de chuva, trabalhadores perdem salário e moradores veem suas rotinas interrompidas. A cobrança do vereador, respaldada por relatos reais, reforça uma expectativa de resposta imediata.
Durante a sessão, após ser informado pela Prefeitura, o vereador James Garcia, líder do governo na Câmara, comunicou que as pedras destinadas ao reparo da estrada já foram adquiridas e que o material será aplicado assim que o tempo firmar.
A atualização, embora positiva, reacendeu a controvérsia entre os parlamentares. O intervalo de seis meses entre as primeiras cobranças e a efetiva compra do material voltou a ser questionado, especialmente porque a manutenção preventiva deveria ter sido executada antes do período chuvoso. Para vereadores e moradores, o cenário ilustra um problema recorrente da gestão pública local, onde se age apenas depois que a via colapsa, momento em que o impacto social já está instalado e a solução se torna mais complexa.
A estrada segue classificada como uma das vias rurais mais estratégicas da região e, até o momento, não há previsão formal de início dos reparos.
A Folha Sudeste permanece acompanhando o caso.













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