A campanha nasceu com promessa de impacto. Nome forte, identidade visual chamativa e um cronograma divulgado em redes sociais garantindo mutirões todos os sábados. A Prefeitura de Itararé apostou no programa Cidade Sempre Limpa para transmitir a imagem de organização, planejamento e cuidado com os bairros. Porém, nas últimas semanas, o que se multiplicou não foi a limpeza urbana, e sim vídeos, fotos e denúncias de moradores indignados com o acúmulo de resíduos, mau cheiro e pontos de descarte irregular que se espalham pela cidade.
Embora parte das denúncias trate do lixo espalhado em áreas de mata e vias públicas, o vídeo que viralizou nas redes, gravado pelo morador Silvio César Gonsalves, revela outro problema relevante, o estado precário do ecoponto do Alto da São Pedro, único ecoponto em funcionamento no município. Nas imagens, Silvio relata mau cheiro intenso, presença de ratos e suspeita de resíduos orgânicos abandonados. Além disso, segundo o morador, os próprios funcionários do ecoponto enfrentam condições inadequadas de trabalho, chegando a ir até sua residência para pedir água para beber, já que, de acordo com ele, não há abastecimento adequado nem banheiro disponível no local. O conjunto das queixas evidencia falhas de gestão e descaso estrutural em um equipamento que deveria operar dentro de padrões mínimos de higiene e dignidade.
O cenário descrito por Silvio contrasta profundamente com a narrativa oficial de uma Itararé organizada e atendida por um sistema eficiente de limpeza pública. No próprio material divulgado pela Prefeitura, a coleta do programa Cidade Sempre Limpa aconteceria somente aos sábados, entre 8h e 12h, em bairros definidos pelo cronograma. Porém, nos comentários das redes sociais, o vereador e líder do governo João Fadel, Pastor James Garcia, afirma que a coleta ocorre “duas vezes por semana” e atribui o acúmulo de lixo ao feriado. A contradição não passou despercebida. Para agravar, uma moradora do bairro Santa Terezinha relatou que nenhuma equipe passou no dia 06 de dezembro, data oficialmente anunciada pela Prefeitura para o mutirão no bairro.
Além do problema no ecoponto, moradores também registraram um segundo foco de descarte irregular, este em área de mata entre o Jardim São Paulo e a Rua Boa Ventura Dias, no Bairro Velho. As fotos mostram dezenas de copos plásticos, embalagens, restos de festa, sacolas e outros resíduos domésticos espalhados pelo solo. O local é próximo de um pequeno córrego, o que amplia o risco de contaminação e reforça a ausência de fiscalização e de ações preventivas. O acúmulo em área ambiental sensível indica que o problema da limpeza urbana extrapolou a estrutura formal e avançou para regiões onde o poder público simplesmente não aparece.


O sentimento predominante nas redes sociais é de frustração com a falta de coordenação, com a desinformação e com a sensação de abandono. Moradores pedem caçambas, reclamam do cheiro insuportável, denunciam novos pontos de descarte que surgem diariamente e afirmam que a cidade parece um “lixão a céu aberto” justamente no período em que Itararé deveria estar organizada para as festas de fim de ano.
No bastidor da operação, surge outro entrave que agrava a situação. Embora o município possua o ecoponto do Alto da São Pedro, Itararé não dispõe de um novo ecoponto licenciado, capaz de dividir a demanda e reduzir a sobrecarga da estrutura atual. Com isso, parte do material recolhido depende de trituração realizada por uma empresa privada, que não tem obrigação contratual de priorizar o serviço público. Quando a logística trava, o reflexo aparece rapidamente nas ruas e áreas verdes.
A responsabilidade direta pela execução e fiscalização das ações recai sobre a Secretaria de Serviços Municipais, comandada pelo secretário Lucas Castilho, que deveria assegurar retirada diária nos pontos críticos, uma logística capaz de acompanhar a demanda real da cidade, fiscalização ativa contra descarte irregular e comunicação transparente com a população. Na prática, a campanha criada para simbolizar organização e eficiência se tornou a vitrine de um sistema frágil, descoordenado e incapaz de responder ao volume crescente de resíduos. Às vésperas do fim do ano, Itararé convive com lixo acumulado, falhas operacionais e contradições entre o discurso oficial e a realidade das ruas. A pergunta que ecoa entre os moradores é direta, quando a Prefeitura vai assumir a limpeza urbana com a seriedade, a transparência e a competência que Itararé merece?
Apesar das contradições apresentadas ao longo das últimas semanas, a própria administração reforça que o programa Cidade Sempre Limpa não é destinado ao recolhimento de lixo comum. Como explicado pelo chefe de departamento Selmo Floriano, o mutirão atende apenas materiais volumosos como móveis velhos, eletrodomésticos antigos e resíduos verdes ensacados, conforme divulgado nos cards oficiais da Prefeitura. Itens como lixo doméstico, plásticos soltos, restos de obra, roupas velhas e demais resíduos descartados nas ruas não fazem parte do escopo do programa. Ainda assim, é justamente esse tipo de lixo que tem se acumulado pela cidade, evidenciando tanto a falta de fiscalização quanto a ausência de uma estratégia clara para prevenir novos pontos de descarte irregular. O contraste entre o que o programa promete e o que a população presencia diariamente reforça a urgência de uma política de limpeza urbana realmente funcional e capaz de responder ao tamanho da demanda que Itararé enfrenta.
Prefeitura de Itararé (SP) inicia ação “Cidade Sempre Limpa” com mutirões de coleta aos sábados

A Prefeitura de Itararé (SP), por meio da Secretaria Municipal de Serviços Municipais, dará início ao programa “Cidade Sempre Limpa – Prefeitura em Ação”, que será realizado todos os sábados, com o objetivo de reforçar a limpeza urbana, eliminar focos de descarte irregular e oferecer mais qualidade de vida aos moradores.
A ação contará com equipes que percorrerão bairros previamente programados para realizar a coleta de materiais volumosos, incluindo:
• Móveis velhos
• Eletrodomésticos antigos
• Resíduos verdes (desde que estejam devidamente ensacados)
Para garantir a eficiência do serviço e evitar acúmulo de materiais nas vias, a orientação é que os moradores retirem os itens somente no dia da coleta, entre 8h e 12h, conforme o cronograma oficial.
Cronograma de bairros
• 29/11 – Centenário, Vila Beca, Bequinha e Bairro Velho
• 06/12 – São João e Santa Terezinha
• 13/12 – Jardim São Paulo 1, 2 e 3
• 20/12 – Novo Horizonte
Materiais que não serão recolhidos
Para manter a organização e segurança da operação, não serão coletados:
• Vidros
• Entulhos
• Plásticos
• Roupas velhas
A Secretaria Municipal de Serviços Municipais reforça que a colaboração da população é fundamental para manter a cidade limpa e organizada. O descarte correto contribui para a preservação do meio ambiente, previne a proliferação de pragas e ajuda a manter os bairros mais seguros e agradáveis.












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